7 lendas sobre fimose infantil

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Enquanto você procura se informar sobre a saúde de seu filho, é fundamental não se deixar influenciar por inverdades sem fundamento médico-científico. Confira a seguir algumas mentiras amplamente difundidas sobre fimose antes da puberdade.

1. Seu filho tem fimose, pois não é possível expor a sua glande; vai ter que passar pomada ou operar

O prepúcio infantil não deve ser retraído até que a própria criança tenha condições de fazê-lo. Em estudo realizado na Dinamarca, foi constatada uma idade média próxima aos 10 anos como aquela da primeira retração total efetuada pelo próprio menino. Os prepúcios de crianças são naturalmente não-retráteis ou pouco retráteis, e portanto a fimose fisiológica antes da puberdade é uma condição normal, assim como o são a ausência de pelos, voz aguda, etc.

2. Menininhos não limpam o interior do pênis e adquirem infecções

Enquanto o prepúcio de um menino que não chegou à puberdade ainda não for retrátil, a única higiene da qual o pênis necessita é externa (deve ser lavado como se a mãe, pai ou responsável estivesse lavando um dedo da criança) ou limitada à parte que pode ser exposta exercendo-se ligeira tração, sem desconforto para o menino.

À medida que o prepúcio for ficando mais e mais retrátil, a própria criança pode ser ensinada a enxaguar seu interior durante o banho ou ducha: uma vez que ela descobre essa nova capacidade de seu pênis (a retratibilidade, mesmo que parcial, do prepúcio), ela vai fazer isso com o maior interesse, pode ter certeza.

Mas o ideal é não usar sabonete para lavar o interior do pênis (ou, no máximo, um sabonete de pH neutro, sem perfume e com baixas quantidades de álcool e detergentes). Lavar a glande com sabonete pode remover óleos corporais de proteção e causar dermatite de contato não especificada, a qual é muitas vezes erroneamente usada como justificativa para a execução de cirurgia - quando, na realidade, bastaria parar de usar sabonete, aplicar algum creme emoliente e aguardar a oleosidade do corpo ser restaurada.

3. O prepúcio não-retrátil causa infecção do trato urinário, por isso é bom operar

Meninas têm maior incidência de infecção do trato urinário (ITU) do que meninos. Quando uma menina tem uma ITU, ela simplesmente recebe um tratamento à base de antibióticos.

O mesmo tratamento funciona para meninos.

Nunca é demais repetir: enquanto o prepúcio infantil não puder ser naturalmente retraído, o pênis não precisa ser lavado por dentro. A retração forçada pode introduzir bactérias nocivas e causar, ao invés de prevenir, ITU e várias outras infeções.

A retração forçada do prepúcio infantil pode gerar tecido lacerado e cicatricial na abertura prepucial, estreitando ainda mais o seu diâmetro.

Isso se não acontecer coisa pior, como por exemplo uma condição crítica de parafimose, que é quando o anel fimótico (faixa circular mais estreita da abertura prepucial) fica preso atrás da glande, causando seu estrangulamento.

4. Seu filho está com o prepúcio inflamado, e sente dor ao urinar? Vai ter que operar

Não se deve confundir processos inflamatórios e/ou infecciosos com fimose. De qualquer forma, a maioria desses processos (inclusive aqueles realmente causadores de fimose patológica) é reversível através de medicação adequada e não requer intervento cirúrgico. Em muitos casos, aliás, a simples atenção a cuidados básicos de higiene (como trocar fraldas frequentemente e enxaguar a região genital entre cada troca) já é suficiente para a regressão de determinadas inflamações, como aquelas devidas a dermatite amoniacal.

Quando um paciente tem uma inflamação ou infecção em qualquer outra região do corpo, nenhum médico de sã consciência vai propor a amputação de tecido orgânico sem antes tentar reverter o quadro com medicamentos.

A única causa de fimose patológica normalmente (mas não sempre) irreversível é o líquen escleroso, que é ainda mais raro em crianças do que em adultos.

5. Amputar o prepúcio vai fazer o seu filho se masturbar menos

Seja na infância, associada ao auto-descobrimento, que na adolescência, devido à explosão hormonal, a masturbação convencional é um comportamento até certo ponto normal do desenvolvimento que pode ajudar, inclusive, a alargar o anel fimótico e diminuir o grau da fimose fisiológica.

A questão não é se seu filho operado vai se masturbar menos, mas se ele vai ter mais trabalho (alguns meninos circuncidados adquirem o hábito de cuspir na mão para que ela consiga deslizar para cima e para baixo da glande) e menos satisfação.

6. Operar a fimose não é muito diferente de cortar as unhas ou o cabelo

Unha e cabelo são "projetados" para crescer continuamente e ser regularmente podados como forma de eliminação de células mortas. A pele, por outro lado, é composta por tecidos celulares muito específicos que são mantidos vivos através de circulação sanguínea.

7. Mas o prepúcio é só um pedacinho de pele, e o seu filho nunca vai sentir falta dele

O prepúcio é a única parte móvel da anatomia sexual humana, e age como fronteira entre o pênis e o ambiente exterior. Ele é importante para proteger a glande de abrasões, mantê-la lubrificada e sensível a estímulos táteis.

Quando o prepúcio é removido através de circuncisão, a glande sofre um processo chamado queratinização, e se torna ressecada e menos sensível.

Além disso, a mucosa interna do prepúcio é intensamente inervada e erógena, e sua remoção irá privar seu filho, mais tarde, de uma série de estímulos sensoriais.

imagem de rapaz

Mas não é só para seu filho que o prepúcio poderá vir a fazer falta: devido ao ressecamento da glande queratinizada, quando ele for adulto o seu pênis exigirá mais lubrificação da sua parceira (ou a utilização de algum lubrificante) para que ela não sinta dores devido ao atrito durante o intercurso sexual. Diversos estudos concluíram que a circuncisão masculina pode afetar negativamente a satisfação sexual tanto do homem quanto da mulher.

Existem sim casos de fimose patológica em que a amputação do prepúcio é inevitável. Na grande maioria dos casos, entretanto, tratamentos não-invasivos ou procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos e conservativos (sem remoção de tecido) são a linha de ação preferível e recomendada.

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