Quando uma mentira é repetida muitas vezes ela pode parecer verdade…
Confira neste artigo 7 das "lendas" mais populares sobre o prepúcio e fimose em adolescentes e adultos.
O prepúcio é a única parte móvel da anatomia sexual humana. Ele é composto por células e tecidos muito específicos, cujo propósito coletivo é agir como fronteira entre o pênis e o ambiente exterior. Por ser móvel, além da pele externa ele é também composto por uma "pele interna", que pode ser visualizada somente quando o prepúcio é retraído:
Essa pele interna, que devido à retratibilidade do prepúcio também entra, durante as relações sexuais, em contato com "o mundo", é bem mais sensível a estímulos do que aquela externa, cuja função principal é de proteção. Além disso, o seu freio é um tecido funcional repleto de terminações nervosas, sendo muito mais sensível e especializado do que um pedaço de pele qualquer.
O prepúcio é importante para proteger a glande de abrasões, mantê-la lubrificada e sensível a estímulos táteis. Quando ele é retirado através de circuncisão, a glande sofre um processo chamado queratinização, e se torna ressecada e dessensibilizada para compensar a falta de proteção natural.
Além disso, devido ao fato de a pele interna e o freio serem intensamente inervados e erógenos, sua remoção também irá privá-lo de importantes estímulos sensoriais. Essa remoção de terminações nervosas, associada à dessensibilização da glande, poderá ter um impacto significativo na sua vida sexual.
Mas não é só para você que o prepúcio poderá fazer falta: devido ao ressecamento da glande queratinizada, o pênis sem prepúcio exigirá mais lubrificação da sua parceira (ou a utilização de algum lubrificante) para que ela não sinta dores devido ao atrito durante o intercurso sexual.
Em primeiro lugar, o câncer de pênis é raro:
Mesmo considerando a taxa de incidência e não a de mortalidade, o tumor peniano representa apenas 2% de todos os tipos de câncer que atingem o homem brasileiro, sendo mais frequente em regiões de baixo nível de desenvolvimento sócio-econômico e em homens idosos.
De qualquer forma, os principais fatores de risco para esse tipo de tumor são a ingestão de tabaco, que espalha carcinógenos pelo corpo através do fluxo sanguíneo, e a presença do papiloma vírus (HPV), que é transmitido por relações sexuais. A fimose num homem sexualmente ativo que se relacione com várias parceiras sem camisinha também pode ser considerada um fator de risco, pois dificulta a higiene do pênis e aumenta a probabilidade de transmissão do HPV.
Ou seja: o grande vilão da estória não é o prepúcio, e sim o estilo de vida e a falta de instrução.
Na Europa, onde a grande maioria dos homens não teve seu prepúcio removido através de circuncisão, o câncer de pênis corresponde a menos de 1% dos tumores que acometem a população masculina, e se manifesta em apenas 1 a cada 100.000 homens aproximadamente.
Alguns estudos de dados estatísticos encontraram evidências para um suposto papel profilático da circuncisão no que se refere a doenças sexualmente transmissíveis (DST), outros não.
A única maneira infalível de se prevenir do contágio de DST é o uso do preservativo.
Deve-se também considerar os vários os mecanismos de proteção imunológica natural proporcionados pelo prepúcio contra infecções. Por exemplo, a umidade subprepucial contém lisozima, uma enzima que ataca e destrói a camada protetora de muitas bactérias.
Em seu estado fresco, o esmegma (aquela substância sebosa que se forma entre o prepúcio e a glande) nada mais é do que um lubrificante saudável e funcional. Mas, quando acumulado por muito tempo, ele pode apresentar um cheiro bastante desagradável.
Essa alteração de odor, que ocorre principalmente após a puberdade, se deve ao fracionamento químico das gorduras do esmegma e à ação de germes normalmente inofensivos. Além disso, material estranho pode ter acesso ao depósito de esmegma na forma de sujeira, poeira ou areia, ou ainda urina e sêmen.
Como com qualquer outra parte do corpo, a falta de cuidados básicos pode ocasionar pequenos problemas, odores e infecções via de regra facilmente tratáveis (mas nem sempre).
É verdade que o pênis com fimose facilita o acúmulo de esmegma e dificulta a sua limpeza - essa é uma das razões pelas quais é importante se livrar da fimose, principalmente a partir da puberdade. Mas a culpa não é do esmegma ou do prepúcio, e sim da falta de higiene.
Quando um paciente tem uma inflamação ou infecção em qualquer outra região do corpo, nenhum médico de sã consciência vai propor a amputação de tecido orgânico sem antes tentar reverter o quadro com medicamentos.
Boa parte das inflamações no prepúcio (postites) e na glande (balanites) é de origem infecciosa e responde bem a tratamentos com antibióticos ou fungicidas. Um tipo de infeccção mais raro, chamado de líquen escleroso ou balanite xerotica obliterante (que gera a formação de um anel esbranquiçado), é mais difícil de ser tratado. Mas até mesmo o líquen escleroso em alguns casos pode ser revertido com a aplicação de corticoide ultrapotente, que deveria ser o tratamento de primeira linha para tal condição.
Se um urologista disser que a sua doença de pele é irreversível sem antes tentar reverter o quadro com o uso de medicamentos, não deixe de se consultar com um bom dermatologista para confirmar o diagnóstico.
A fimose em adultos também pode ser tratada sem cirurgia.