7 lendas sobre o prepúcio

adulto outros

Quando uma mentira é repetida muitas vezes ela pode parecer verdade…

Confira neste artigo 7 das "lendas" mais populares sobre o prepúcio e fimose em adolescentes e adultos.

1. O prepúcio é só um excesso de pele…

O prepúcio é a única parte móvel da anatomia sexual humana. Ele é composto por células e tecidos muito específicos, cujo propósito coletivo é agir como fronteira entre o pênis e o ambiente exterior. ​Por ser móvel, além da pele externa ele é também composto por uma "pele interna", que pode ser visualizada somente quando o prepúcio é retraído:

Anatomia do prepúcio
Anatomia do prepúcio

Essa pele interna, que devido à retratibilidade do prepúcio também entra, durante as relações sexuais, em contato com "o mundo", é bem mais sensível a estímulos do que aquela externa, cuja função principal é de proteção. Além disso, o seu freio é um tecido funcional repleto de terminações nervosas, sendo muito mais sensível e especializado do que um pedaço de pele qualquer.

2. ...e se tiver que tirar não vai fazer falta

O prepúcio é importante para proteger a glande de abrasões, mantê-la lubrificada e sensível a estímulos táteis. Quando ele é retirado através de circuncisão, a glande sofre um processo chamado queratinização, e se torna ressecada e dessensibilizada para compensar a falta de proteção natural.

Além disso, devido ao fato de a pele interna e o freio serem intensamente inervados e erógenos, sua remoção também irá privá-lo de importantes estímulos sensoriais. Essa remoção de terminações nervosas, associada à dessensibilização da glande, poderá ter um impacto significativo na sua vida sexual.

Mas não é só para você que o prepúcio poderá fazer falta: devido ao ressecamento da glande queratinizada, o pênis sem prepúcio exigirá mais lubrificação da sua parceira (ou a utilização de algum lubrificante) para que ela não sinta dores devido ao atrito durante o intercurso sexual.

3. O prepúcio causa câncer de pênis

Em primeiro lugar, o câncer de pênis é raro:

Infográfico sobre mortes por câncer no Brasil


Mesmo considerando a taxa de incidência e não a de mortalidade, o tumor peniano representa apenas 2% de todos os tipos de câncer que atingem o homem brasileiro, sendo mais frequente em regiões de baixo nível de desenvolvimento sócio-econômico e em homens idosos.

De qualquer forma, os principais fatores de risco para esse tipo de tumor são a ingestão de tabaco, que espalha carcinógenos pelo corpo através do fluxo sanguíneo, e a presença do papiloma vírus (HPV), que é transmitido por relações sexuais. A fimose num homem sexualmente ativo que se relacione com várias parceiras sem camisinha também pode ser considerada um fator de risco, pois dificulta a higiene do pênis e aumenta a probabilidade de transmissão do HPV.

Ou seja: o grande vilão da estória não é o prepúcio, e sim o estilo de vida e a falta de instrução.

Na Europa, onde a grande maioria dos homens não teve seu prepúcio removido através de circuncisão, o câncer de pênis corresponde a menos de 1% dos tumores que acometem a população masculina, e se manifesta em apenas 1 a cada 100.000 homens aproximadamente.

4. Homens sem prepúcio correm menos risco de pegar uma DST...

Alguns estudos de dados estatísticos encontraram evidências para um suposto papel profilático da circuncisão no que se refere a doenças sexualmente transmissíveis (DST), outros não.

A única maneira infalível de se prevenir do contágio de DST é o uso do preservativo.

Deve-se também considerar os vários os mecanismos de proteção imunológica natural proporcionados pelo prepúcio contra infecções. Por exemplo, a umidade subprepucial contém lisozima, uma enzima que ataca e destrói a camada protetora de muitas bactérias.

5. ...porque o esmegma pode causar doenças

Em seu estado fresco, o esmegma (aquela substância sebosa que se forma entre o prepúcio e a glande) nada mais é do que um lubrificante saudável e funcional. Mas, quando acumulado por muito tempo, ele pode apresentar um cheiro bastante desagradável.

Essa alteração de odor, que ocorre principalmente após a puberdade, se deve ao fracionamento químico das gorduras do esmegma e à ação de germes normalmente inofensivos. Além disso, material estranho pode ter acesso ao depósito de esmegma na forma de sujeira, poeira ou areia, ou ainda urina e sêmen.

Como com qualquer outra parte do corpo, a falta de cuidados básicos pode ocasionar pequenos problemas, odores e infecções via de regra facilmente tratáveis (mas nem sempre).

É verdade que o pênis com fimose facilita o acúmulo de esmegma e dificulta a sua limpeza - essa é uma das razões pelas quais é importante se livrar da fimose, principalmente a partir da puberdade. Mas a culpa não é do esmegma ou do prepúcio, e sim da falta de higiene.

6. Se o prepúcio estiver inflamado ou infeccionado, tem que operar o mais rápido possível

Quando um paciente tem uma inflamação ou infecção em qualquer outra região do corpo, nenhum médico de sã consciência vai propor a amputação de tecido orgânico sem antes tentar reverter o quadro com medicamentos.

​Boa parte das inflamações no prepúcio (postites) e na glande (balanites) é de origem infecciosa e responde bem a tratamentos com antibióticos ou fungicidas. Um tipo de infeccção mais raro, chamado de líquen escleroso ou balanite xerotica obliterante (que gera a formação de um anel esbranquiçado), é mais difícil de ser tratado. Mas até mesmo o líquen escleroso em alguns casos pode ser revertido com a aplicação de corticoide ultrapotente, que deveria ser o tratamento de primeira linha para tal condição.

Se um urologista disser que a sua doença de pele é irreversível sem antes tentar reverter o quadro com o uso de medicamentos, não deixe de se consultar com um bom dermatologista para confirmar o diagnóstico.

7. Fimose só pode ser resolvida com cirurgia, principalmente em adultos

A fimose em adultos também pode ser tratada sem cirurgia.

Referências

- Taylor JR, Lockwood AP, Taylor AJ (1996). The prepuce: specialized mucosa of the penis and its loss to circumcision. British J of Urology, 77:291-5.
- McGrath K (2001). The frenular delta: a new preputial structure. Em: Denniston GC. Understanding Circumcision: A Multi-Disciplinary Approach to a Multi-Dimensional Problem. Nova Iorque: Kluwer/Plenum, 199-206.
- Sorrells ML, Snyder JL, Reiss MD, et al (2007). Fine-touch pressure thresholds in the adult penis. British J of Urology, 99:864-9.
- Denniston GC, Hill G (2004). Circumcision in adults: effect on sexual function. Urology, 64(6):1267.
- Kim D, Pang M (2007). The effect of male circumcision on sexuality. BJU Int, 99(3):619-22.
- Solinis I, Yiannaki A (2007). Does circumcision improve couple's sex life? Journal of Men's Health and Gender, 4(3):361.
- Frisch M., Lindholm M, Gronbaek M (2011). Male circumcision and sexual function in men and women: A survey-based, cross-sectional study in Denmark. International J of Epidemiology, 40(5):1367-1381.
- https://davidlouis77.wordpress.com/2010/05/08/adult-circumcision-my-experience-2-years-on/
- O’Hara K, O’Hara J (1999). The effect of male circumcision on the sexual enjoyment of the female partner. British J of Urology International, 83(1):79–84.
- Bensley GA, Boyle GJ (2003). Effects of male circumcision on female arousal and orgasm. NZ Medical J, 116(1181):595-6.
- Rogus BJ (1987). Squamous cell carcinoma in a young circumcised man. J of Urology, 138(4):861-2.
- Harish K, Ravi R (1995). The role of tobacco in penile carcinoma. British J of Urology, 75(3):375-377.
- Shingleton H, Heath Jr CW (1996). Letter to the American Academy of Pediatrics. American Cancer Society.
- http://www.cirp.org/library/disease/cancer/
- Fleiss P, Hodges F, Van Howe RS (1998). Immunological functions of the human prepuce. Sexually Transmitted Infections (London), 74(5):364-7.
- Laumann EO, Masi CM, Zuckerman EW (1997). Circumcision in the United States. J of the American Medical Association, 277(13):1052-7.
- Edwards S, Bunker C, Ziller F, Meijden W (2014). 2013 European guideline for the management of balanoposthitis. International J of STD & AIDS, 25(9):615-626.
- Neill SM, Tatnall FM, Cox NH (2002). Guidelines for the management of lichen sclerosus. British J of Dermatology, 147:640-9.
- Dunn HP (1989). Non-surgical management of phimosis. Australian and New Zealand J of Surgery, 59(12):963.